22 março 2010

Aposente-se mas continue a trabalhar!

Enquanto a reforma do sistema de Saúde nos EUAchegou a bom porto, embora esta não seja a reforma inicialmente pensada pela administração Obama, em Portugal anda tudo preocupado com os pedidos de aposentação antecipada de muitos médicos.
A preocupação dos utentes é legítima, mas cabe aqui perguntar quantos dos clínicos vão deixar de integrar o Sistema Nacional de Saúde (SNS) e realmente deixarem de trabalhar? E quantos vão trabalhar no sistema privado? E quantos, depois de aposentados, vão ser contratados pelo sistema empresarial do Estado? E não é esta carência fruto da visão corporativista da própria classe que ainda hoje se opõe ferozmente a que existam mais cursos de Medicina?

23 comentários:

António de Almeida disse...

O amigo em poucas linhas fala de vários assuntos, vou por partes:

1-esta não seja a reforma inicialmente pensada pela administração Obama
-Felizmente alguns congressistas do Partido Democrata ouviram a sociedade americana, que representam, obrigando a administração a alterar substancialmente o Obamacare...

2-Quanto às aposentações de clínicos e não só, como tenho escrito frequentemente o Estado alterando em seu proveito as regras do jogo quando entende, provoca estas situações. Não é de estranhar que funcionários públicos, incluindo médicos, façam contas, se irão ser penalizados na reforma continuando a trabalhar, então reformam-se já. É justo! Recordo que o Estado deveria ser uma forma da sociedade se organizar para beneficiar o indivíduo e nunca o contrário, sob pena de começarmos um longo caminho que nos transformará em servos do colectivo.

3-Obviamente sou contra o numeros clausus, este ou qualquer outro, por mim formam-se todos os que entenderem e tiverem capacidade, sem direito a emprego garantido no Estado, que apenas deve contratar à medida das necessidades...

Quint disse...

Meu caro António de Almeida, já sendo meu leitor de longos anos já sabe que procuro abordar vários temas num só texto de modo a permitir uma multiplicidade de abordagens.

Quanto ao que nos deixa, não sei se o Obamacare era melhor na versão inicial ou nesta; sei apenas que me causa alguma consternação que existam milhões de cidadão que ficam quase absolutamente desprotegidos porque não têm um seguro de Saúde ou então entregues aos serviços mínimos do "public care".
De qualquer forma, é uma vitória de Obama que aqui jogava muito do seu capital político.

Quanto às aposentações antecipadas, diz e bem que o problema é basicamente das pessoas e que estas devem defender os seus direitos. Plenamente de acordo consigo.
Contudo ... discordo que seja permitido que um aposentado trabalhe; muito menos que um clínico, assim como qualquer outro, se aposente como funcionário público e no dia seguinte entre pela mesma porta a recibos verdes, contrato de direito privado ... seja o que for.

Sobre os "numerus clausus" colocou o dedo na ferida quando fala em terem trabalho garantido no Estado.
E terem direito à acumulação entre público e privado numa verdadeira vergonha.

pedro oliveira disse...

E tudo no supremo interesse dos utentes e do bem nacional...
abr

Quint disse...

Amigo pedro oliveira esses, coitados, estão sempre no fim da escala!

PQ disse...

Penso que será chegado o momento para diferenciar acessos às redes publicas, sejam elas de que cariz forem, em função do rendimento do utente. Por outro lado, os prestadores privados em saúde deviam ser obrigados a prestar serviços em todas as valências, incluindo aquelas que que têm pouco retorno financeiro.
Quanto aos médicos, a situação é semelhante à dos professores, as técnicas evoluíram e muitos deles não acompanharam o progresso, sentem-se pois deslocados e incómodos, até porque aqueles que têm prazer na sua profissão ultrapassam largamente a idade da reforma.

Quint disse...

Caro PQ o acesso diferenciado far-se-ia pela existência de um regime de taxas escalonadas ou simplesmente obrigando aqueles com mais rendimentos a saírem do Sistema Nacional de Saúde?

Quanto aos prestadores privados, para os obrigar a prestarem todos os cuidados de saúde o Estado tem de manter-se na via das parcerias público-privadas que, já se viu, são a ruína do erário público.
A manter essa aposta, então é mesmo de obrigar os privados a terem todas as valências e a tratar os pacientes. E não permitir que quando as coisas se complicam, os pacientes sejam enviados discretamente para a rede pública.

Quanto à abordagem que faz à questão dos médicos admito que também seja um dos factores a ponderar.

PQ disse...

Optaria pelas taxas escalonadas uma vez que não faria sentido afastar 'tout court' cidadãos de um serviço publico e uma vez que os privados, pela sua lógica própria, não estão interessados em prestar cuidados primários nem alguns altamente especializados. Vejamos por exemplo a actuação da industria farmacêutica que recusa a investigação na área das doenças raras e contingenta os produtos já desenvolvidos mas que são muito baratos e se destinam a patologias menos comuns.

Quint disse...

Perfeitamente de acordo, PQ; aliás, é da mais elementar justiça e equidade que assim seja.

Quanto aos privados, contra os quais nada embora tenha para mim que o Estado devia dizer claramente neste sector, assim como noutros, que quem quer estar no mercado o está por sua conta e risco ou, em alternativa, com o modelo actual com uma fiscalização rigorosa capaz de impedir certos desmandos que por aí se praticam!

Pensador disse...

Num país como o meu, onde aposentar-se e parar de trabalhar é quase sinônimo de passar fome ou depender da caridade de familiares, até posso compreender o aposentado continuar trabalhando. Mas concordo, uma vez aposentado, deveria no mínimo ser impedido de continuar a trabalhar no serviço público. Que atenda em sua clínica privada aos que lá quiserem ir.
Quanto às ditas políticas públicas de saúde, só o que percebo, em todo o mundo, é que não passam de um disfarce para fingir que a saúde não é totalmente privatizada...

Quint disse...

Caro Pensador totalmente de acordo com o seu raciocínio; então como se admite que uma pessoa se aposente do serviço público e volte a trabalhar no mesmo embora sob capa de disfarce de profissional liberal, por exemplo?

Anónimo disse...

Em cheio, QUINN em cheio!
Sem peias e é mesmo isso!
Cabrões dos corporativistas, que só pensam em ganhar! Essa foi muito bem vista e bem dita!!

Daniel Santos disse...

a ministra já avanço que iria contratar médicos reformados... não percebi a lógica...

Anónimo disse...

Daniel,
essa foi bem! vista ahahhahahahhhaha

Pensador disse...

Nada contra os médicos. Mas que são uma das classes mais corporativistas que conheço, isto de longe.
Quanto à indústria farmacêutica, PQ, eu chamaria sua maneira de agir de quase criminosa. Costumo dizer que a cura para algumas doenças, como o diabetes, se existir, será sempre "pesquisada", mas nunca "encontrada". A razão? Simplesmente o lucro. Pagam-se verdadeiras fortunas para manter o diabetes sob controle. Como ouvi certa vez, a saúde é o melhor negócio, pois o cidadão pagará o que for necessário para recuperar a sua. Ou ao menos tentar...

Francisco Clamote disse...

Respondo à última interrogação: Nem mais!

Quint disse...

Olha FADA eu só não entendo como certas evidências não entram pelos olhos dentro de algumas pessoas!

Quint disse...

Pois, Daniel, não percebes tu, nem eu e se calhar mais alguns portugueses!

Quint disse...

Também aí, Pensador, os médicos são assim uma espécie de loja maçónica?

Quint disse...

Estamos, portanto, de acordo Francisco Clamote que eles o que querem é pouca concorrência ... uma perninha aqui, uma perninha ali no consultório, um braço no hospital privado, uma mão a dar umas aulas ...

Pensador disse...

vez mais, creio que o são no mundo todo, Ferreira-Pinto...

Quint disse...

Confirmo, assim, as minhas suspeitas amigo Pensador!

Tite disse...

Já não tenho paciência para as Corporações.

Quanto maiores mais força têm para contrariar soluções que se impõem e com isso atrasam medidas necessárias tomar para reduzir custos injustificados na Administração Pública. Casos dos Professores, Médicos, Juízes, Farmacêuticos, etct., etc., etc.

Quint disse...

Ó Tite quase que os enumerava a todos!
Mas é bem verdade que graças às atitudes de alguns acabam por ser todos prejudicados.
Por exemplo, eu sou técnico superior numa autarquia local e assisti incrédulo ao silêncio quase sepulcral com que alterações profundas (e algumas injustas) foram encaradas (caso da progressão desde a base da carreira até ao topo poder demorar 140 anos!, como se tal fosse possível) mas todos se indignaram quando foi dito aos professores que nem todos podiam chegar ao topo da carreira!