16 março 2010

Futurologia político-partidária


Tendo em conta o passado recente da vida política nacional, nomeadamente as duas maiorias do PS, uma absoluta outra relativa, bem como a constante implusão do PSD, que conheceu a sua maior detonação no congresso do passado Sábado, fica claro que nos próximos anos o espectro político-partidário nacional irá sofrer alterações significativas.
Sob os desígnios de José Sócrates, o PS revelou capacidade única na sua história de roubar eleitorado de centro-direita ao PSD. Diria mesmo que o até aqui denominado Centralão, que compreendia o PS e o PSD, é terreno praticamente entregue na sua totalidade ao PS.
Sócrates assumiu uma postura verdadeiramente centralista, nunca perdendo de vista o eleitorado da esquerda moderada que sempre foi terreno fértil para o PS e piscando o olho, aqui e ali, a alguma fatia do eleitorado de centro-direita com significativo sucesso.
Já o PSD, após a eleição de Ferreira Leite, foi radicalizando cada vez mais o seu discurso, e respectivo posicionamento político e, ou muito me engano, ou esta tendência vai acentuar-se ainda mais, seja qual for o próximo presidente do partido.
O PSD pisa cada vez mais terrenos à direita, tentando agora ir buscar, de vez, eleitorado que até aqui oscilava entre o CDS-PP e o PSD.
O crescimento do PS irá, a meu ver, obrigar cada vez mais que PSD e CDS-PP se abracem e recuperem a antiga AD, isto se quiserem ter a menor esperança de lutar pelo poder nas próximas legislativas.
À esquerda, o BE tem crescido mas parece-me que já atingiu o limite máximo da sua capacidade de conquista do eleitorado, até porque, o seu efeito surpresa vai esmorecendo à medida que algumas das suas principais figuras patenteiam o gosto e a soberba do poder pelo poder.
O PCP e o seu irmão mais novo, Os Verdes, vão continuar pequeninos em termos de legislativas, mas ainda e sempre com uma palavra a dizer em termos autárquicos.
Tendo em conta o cenário de crise continuada e o seu previsível agravamento, não é de estranhar que surja alguma força política com discurso de extrema-direita que venha a colher a simpatia de algum eleitorado mais jovem, menos informado, e com dificuldades acentuadas de inserção no mercado de trabalho. É uma tendência que me parece tão plausível quanto perigosa, mas que me parece quase seguramente inevitável.
Resumindo, penso que o PS é cada vez mais o grande Centralão, tendo empurrado o PSD mais para a direita. Com isto, o CDS-PP ou se solidariza ao PSD ou terá tendência a perder expressão, e à esquerda pouco ou nada mudará, havendo pouco, ou mesmo nenhum espaço de expansão, contrariamente à direita onde, penso eu, há terreno fértil a explorar pelos extremistas, que poderão aproveitar a agudização do cenário de crise.

Vem ai mau tempo, camaradas !

11 comentários:

Anónimo disse...

AHAHAHHAHHA EDUARDO! essa foi a MATAR! AHAHAHAHAH PAÍS DE COBARDES!
Bota daí a moto e seguimos os dois para Lisboa, com uns mísseis surripiados à ETA! :))))

Quint disse...

Já o tenho dito e escrito ... impõe-se uma profunda reformulação do sistema partidário; começando, talvez, pela fundação das partes mais à esquerda do PSD e mais à direita do PS!

PQ disse...

Pelo meu lado, infelizmente, não creio que o espectro partidário se altere profundamente. O PCP vai continuar a cair, o BE acabará por descer para a sua fasquia natural, entre5 e 8 %, o PP poderá crescer mais um pouco, o populismo sempre rendeu e o PS e o PSD manter-se-ão no seu papel de marretas nacionais. Não vejo nem ao nível ideológico nem no plano sociológico espaço a médio prazo para soluções alternativas.

Anónimo disse...

Haver há, só que ninguém se quer atravessar à frente de uma bala perdida, ou levar um tiro no cu!
Mas pior do que isto, só mesmo a purificação do sangue!

Eduardo Miguel Pereira disse...

FP, mas esse espaço à esquerda do PSD e à direita do PS é precisamente a zona de intersecção entre os dois, em suma, a franja dos indecisos que ora tem dado governo a uns ora a outros.
Advogas o quê ? a criação duma nova força partidária, precisamente nesse espaço central entre ambos ?

Eduardo Miguel Pereira disse...

Ó Fada tu não me desafies para actividades terroristas que eu, com esta pinta de Marroquino, sou engavetado ainda antes do 1º disparo !

Eduardo Miguel Pereira disse...

PQ, entendo o seu raciocinio, embora, como disse, entenda que para mal dos nossos pecados ainda nos hão de aparecer por ai uns rapazolas da extrema-direita.
Quanto à solução, ela se calhar sempre existiu, e está aí, a malta tem é ainda muito pudor ou mesmo medo de arriscar.

Celina disse...

ahahah fantástico post!

Olhem eu cá por mim, que ainda espero a minha oportunidade de votar, estou-me a preparar para votar MEP. Claro que nas últimas legislativas teria votado Sócrates, tudo para não eleger a Manuelinha! Mas tenho seguido com especial interesse o percurso do MEP e mesmo sendo um partido pequeno que ainda nem expressão tem no parlamento, acho que vale a pena o voto de confiança.

Quanto à extrema direita... parece-me inevitável... casos como os do Partido Nacionalista vão continuar a surgir... infelizmente... Cabe a nós a tarefa de combater estes focos essencialmente a partir do exemplo que, a meu ver, continua a ser a melhor forma de educação.

Zé Povinho disse...

Mudar o sistema é imperioso mas só passando uma borracha sobre o leque partidário existente.
Abraço do Zé

Eduardo Miguel Pereira disse...

Olha Celina, eu também vejo com bons olhos o surgimento desses novos partidos/movimentos políticos. Acho que podem e devem contribuir para uma renovação do tal espectro politico-partidário a que me refiro. E espero que vejam com ideias arejadas e sem vícios tão característicos dos "velhos" partidos políticos que nos têm (des)governado.

Eduardo Miguel Pereira disse...

Também passa por aí Zé Povinho. Não digo que os actuais partidos sejam "dizimados", mas que terão de se reestruturar e livrar dos seus aparelhos internos, lá isso terão.
Terão ... digo eu, que sou parvo e ainda acredito em utopias !